A década de 1940 foi um período de grandes desafios e transformações. Marcada pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a moda nos anos 40 refletiu as dificuldades e limitações da época, mas também a resiliência e a criatividade das pessoas. Durante a primeira metade da década, o racionamento de materiais e a austeridade influenciaram fortemente o vestuário, enquanto a segunda metade testemunhou o renascimento do glamour, graças ao final da guerra e à recuperação econômica. Este texto explora como a moda dos anos 1940 evoluiu em resposta ao contexto histórico e social, destacando as principais tendências e as personalidades que definiram o estilo da época.
Moda Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Durante a Segunda Guerra Mundial, a moda sofreu transformações significativas, influenciadas pelas circunstâncias dramáticas do conflito. Com muitas das grandes cidades da Europa sob ameaça e a indústria da moda enfrentando escassez de recursos, várias casas de moda fecharam suas portas. Entre as maisons que fecharam temporariamente estavam algumas das mais tradicionais, como a de Elsa Schiaparelli, enquanto outras, como a de Coco Chanel, decidiram encerrar suas atividades durante o período de guerra. Chanel fechou sua maison em 1939, alegando a impossibilidade de manter a produção em tempos tão difíceis, e só retornou ao mundo da moda após o fim do conflito, em 1954.
Além do fechamento das maisons, a moda durante a guerra foi caracterizada por uma necessidade de adaptação. Muitas mulheres passaram a trabalhar em fábricas, escritórios e no esforço de guerra, o que demandou roupas práticas e funcionais. Essa mudança nos papéis sociais femininos permitiu uma aceitação maior do uso de calças para mulheres, que se tornou não apenas prático, mas essencial para o trabalho. A imagem de Rosie the Riveter tornou-se um símbolo dessa transformação, promovendo o uso de macacões e jardineiras, que se tornaram comuns na moda feminina do período.
Enquanto isso, designers como Cristóbal Balenciaga continuaram criando de maneira adaptada, usando os recursos disponíveis e apostando em silhuetas que destacavam simplicidade e sofisticação. Balenciaga, que permaneceu na Espanha durante a guerra, conseguiu manter sua maison em funcionamento, e suas criações continuaram sendo vistas como um refúgio de elegância em meio à austeridade da época.
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Coco Chanel e a 2ª Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, Coco Chanel viveu um período de grande controvérsia e transformação. A moda nos anos 40 também foi marcada pela história complexa de Coco Chanel, que viveu um período de grande controvérsia e transformação. Em 1939, com a eclosão da guerra, Chanel decidiu fechar sua maison, alegando que não era possível continuar com a produção em tempos tão difíceis. Ela demitiu suas funcionárias e cessou a maior parte de suas atividades no mundo da moda. Durante os anos de conflito, Chanel viveu no Hotel Ritz, em Paris, que foi requisitado como sede de oficiais alemães, e durante esse tempo, ela manteve um relacionamento com um oficial da inteligência nazista, Hans Günther von Dincklage. Esse envolvimento trouxe muita polêmica para a estilista, sendo até acusada de colaborar com os alemães, o que afetou profundamente sua reputação após o término da guerra.
Após o conflito, Chanel enfrentou o exílio social em Paris devido às acusações de colaboração com os nazistas. Ela se mudou para a Suíça por alguns anos, buscando escapar das repercussões políticas e do ostracismo imposto pela sociedade francesa. Entretanto, em 1954, Chanel retornou a Paris e ao mundo da moda, determinada a recuperar sua posição. Ela relançou sua maison e apresentou uma nova coleção, que foi inicialmente recebida com ceticismo pelos críticos franceses, mas que acabou se tornando um sucesso estrondoso nos Estados Unidos. Sua visão de moda prática e elegante, com o uso de tecidos confortáveis e cortes clássicos, logo conquistou o mercado internacional, restabelecendo seu nome como uma das maiores estilistas do século XX.
O Racionamento na Moda dos anos 40
Durante a primeira metade da década, o racionamento de materiais influenciou fortemente o vestuário, forçando adaptações criativas e práticas. O governo britânico introduziu um sistema de racionamento em 1941, e a moda nos anos 40 precisou transformar escassez em inovação — reutilizando tecidos e adaptando roupas antigas. A expressão “Make Do and Mend” (Aproveite e Conserte) tornou-se um lema da época, e o “Utility Clothing Scheme” (Esquema de Roupas Utilitárias) trouxe um design prático e durável para o mercado, mantendo ainda algum senso de estilo. Designers como Norman Hartnell e Hardy Amies criaram peças que mostravam a resiliência e a capacidade das pessoas de se adaptarem.
A Estrela da Década: Monsieur Dior
Christian Dior foi uma das figuras mais influentes da moda nos anos 40, especialmente no período pós-guerra. Nascido em uma família abastada em Granville, na Normandia, Dior inicialmente seguiu sua paixão pelas artes, trabalhando como galerista e posteriormente ingressando no mundo da moda como ilustrador e assistente de outros estilistas, como Robert Piguet. Durante a ocupação nazista em Paris, Dior trabalhou para Lucien Lelong, ajudando a criar roupas que mantivessem a indústria da moda francesa viva durante o período de conflito. Em 1947, com a fundação de sua própria maison, Dior lançou sua primeira coleção, que se tornaria mundialmente conhecida como o “New Look”. Essa coleção revolucionou a moda feminina ao enfatizar uma silhueta completamente diferente da praticidade austera dos anos de guerra. Saias volumosas, cinturas bem marcadas e tecidos luxuosos trouxeram de volta a ideia de feminilidade exuberante, em uma clara oposição às linhas retas e práticas do período anterior.
O “New Look” foi um divisor de águas, trazendo de volta o luxo e a extravagância que haviam desaparecido durante os anos de conflito. Essa abordagem enfatizava a opulência e o glamour, utilizando tecidos suntuosos e várias camadas, tornando-se um símbolo de renovação e prosperidade no pós-guerra. A visão de Dior não apenas trouxe uma nova era para a alta-costura, mas também redefiniu o conceito de elegância para mulheres em um momento em que o mundo precisava de um novo começo cheio de beleza e esperança.
Pós Guerra
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a moda começou a refletir um desejo crescente por uma estética mais elaborada e feminina. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a moda nos anos 40 começou a refletir um desejo crescente por uma estética mais elaborada e feminina. Isso pôde ser observado nas coleções dos principais designers da época. A American Vogue notou “uma leve tendência para saias mais longas, com Balenciaga, Lelong e Rochas mostrando-as um pouco mais abaixo do joelho”. Esse movimento indicava uma mudança em direção a um estilo mais formal e elegante, alinhado ao desejo da sociedade por uma aparência que evocasse otimismo e sofisticação. Essa volta ao luxo também simbolizava a libertação das restrições impostas pelos anos de racionamento e austeridade, demonstrando o quanto a moda acompanhava a transição do contexto sociocultural do período.
Elle e a moda nos anos 40
Em 1945, na França, foi lançada a primeira edição da revista Elle, que rapidamente se tornou uma das publicações de moda mais influentes do mundo. O surgimento da Elle foi um marco importante não apenas para a moda, mas também para o movimento feminista, pois a revista oferecia um espaço onde as mulheres podiam explorar sua identidade, discutir moda e beleza, e expressar suas opiniões sobre o papel feminino em uma sociedade que estava se reconstruindo após a guerra. O contexto social era especialmente significativo, já que em 1944 as mulheres na França ganharam o direito ao voto, o que reforçou a noção de autonomia e participação ativa das mulheres na vida pública. Esse avanço político influenciou também a moda, já que as mulheres buscavam uma nova identidade que refletisse suas conquistas e liberdade.
A Elle ajudou a redefinir o conceito de feminilidade no pós-guerra, promovendo uma imagem da mulher que era ao mesmo tempo moderna, independente e conectada com as tendências de moda. Essa nova perspectiva apoiou o movimento feminista ao destacar mulheres que assumiam papéis mais ativos, seja na vida doméstica, nos negócios, ou como consumidoras influentes de moda. A revista também ajudou a popularizar as novas tendências que emergiam no cenário da moda, tornando-as acessíveis a uma audiência mais ampla e servindo como uma voz importante para a emancipação feminina.
Cinema e a moda nos anos 40
O cinema teve um papel fundamental na definição da moda nos anos 40, especialmente durante e após a Segunda Guerra Mundial. As estrelas de Hollywood tornaram-se símbolos de glamour e inspiração, ajudando a manter a elegância e o estilo em tempos difíceis. Atrizes como Rita Hayworth, Ingrid Bergman, Katharine Hepburn e Lauren Bacall foram ícones de estilo, influenciando milhões de mulheres ao redor do mundo. Seus vestidos glamorosos, penteados elaborados e uma atitude confiante ajudaram a criar um refúgio de escapismo para o público que buscava distração do clima de guerra. O impacto do cinema na moda foi tão significativo que, em 1949, a 21ª cerimônia do Oscar introduziu um prêmio para Melhor Figurino, reconhecendo a importância do design de roupas na construção de narrativas cinematográficas, dando a vitória para Dorothy Jeakins, pelo filme Joana d’Arc (1948), estrelado pela diva Ingrid Bergman (Mãe de Isabela Rossellini, modelo principal da Lancôme nos anos 80).