História da Moda: Moda na Idade Média

Um cavaleiro medieval com uma rosa e uma mulher no fundo com castelo

A moda na Idade Média, que se estendeu do século V ao XV, é um exemplo fascinante de como a roupa refletia a sociedade da época. Nesse período, a moda começou de forma simples e prática, mas com o tempo se tornou mais elaborada, especialmente para a nobreza. A sociedade medieval se diferenciava claramente por classes sociais, e o vestuário era um marcador visual disso. Os nobres usavam tecidos finos como veludo e seda, enquanto as classes trabalhadoras tinham que se contentar com lã e tecidos mais rústicos.

A influência da Igreja era significativa, muitas vezes ditando regras sobre o que era apropriado vestir. Apesar disso, a moda era uma forma de expressão, com diferentes estilos refletindo a cultura, a tecnologia têxtil e as novas influências da época. Se você é um estudante iniciando sua carreira, explorar a moda na Idade Média pode oferecer insights incríveis sobre como a moda sempre foi mais do que apenas roupas – é uma parte vital de como as pessoas expressam quem são.

Era das Migrações: da queda de Roma até por volta de 1100 D.C.

A Era das Migrações, um período que se estendeu da queda do Império Romano até cerca de 1100 d.C., marcou uma fase de grandes transformações na Europa. Este foi um tempo de fluxos populacionais intensos, novas configurações políticas e, inevitavelmente, mudanças na moda.

Vikings

Os Vikings, mestres da navegação e da exploração, eram igualmente práticos quando se tratava de moda. Eles se vestiam para enfrentar os ventos fortes e o frio cortante da Escandinávia, priorizando a funcionalidade acima de tudo. As túnicas de lã eram um item básico no guarda-roupa tanto de homens quanto de mulheres, mas o verdadeiro segredo para enfrentar o frio eram as camadas adicionais de mantos e capas.

As mulheres vikings também se vestiam com praticidade, usando vestidos longos, muitas vezes sobrepostos com um “vestido suspenso” chamado smokkr, que era preso com broches nos ombros.

Os homens preferiam calças largas para facilitar o movimento, especialmente para andar a cavalo ou durante o combate. As botas, feitas de couro e forradas com lã, eram essenciais para manter os pés aquecidos e protegidos.

smokkr viking feminino
Smokkr Viking - Reconstrução do Museu Nacional da Dinamarca. Foto de Hilde Thunem.

Bárbaros

Os povos bárbaros eram grupos que viviam além das fronteiras do Império Romano e eram vistos pelos romanos como “estrangeiros” ou “forasteiros”. O termo “bárbaro” incluía vários grupos como godos, vândalos, hunos, francos, anglo-saxões e muitos outros. Esses grupos foram fundamentais para a transformação da Europa durante a queda do Império Romano do Ocidente, mudando a face do continente com suas próprias culturas, línguas e modos de vida. Ao longo da Era das Migrações, eles remodelaram a Europa medieval de uma forma que ainda é sentida hoje.

Os godos e outros povos bárbaros usavam vestimentas que refletiam sua cultura, clima e as condições de vida. Durante a Era das Migrações, suas roupas eram principalmente práticas e adequadas às atividades diárias, ao clima e às demandas do estilo de vida nômade ou semi-nômade. 

Nos séculos VII e VIII, novos e pequenos reinos começaram a surgir em toda a Europa Ocidental e, em 800, o governante franco Carlos Magno foi coroado como o líder de um império que se estendia das montanhas dos Pirineus, na fronteira com a Espanha, até o centro da Europa. A Europa Ocidental, predominantemente cristã, começava a se tornar uma sociedade mais estável.

Justiniano I – Ex-imperador bizantino
Mosaico Justiniano
Mosaico Justiniano na Basílica de San Vitale - Revenna/ITA. Corte Imperial mostra os poderes da época: Imperador, Clero, Nobreza e Guerreiros.

Mouros na Península Ibérica

A conquista da Espanha pelos mouros foi um marco importante na história da Península Ibérica. Em 711, tropas muçulmanas lideradas por Tariq ibn Ziyad cruzaram o estreito de Gibraltar, iniciando uma conquista que rapidamente resultou no estabelecimento do Emirado de Córdoba. Esse evento marcou o início de quase 800 anos de presença islâmica na Espanha, período conhecido como Al-Andalus.

Durante esse tempo, a Península Ibérica tornou-se um caldeirão cultural, onde a influência islâmica se misturou com as tradições cristãs e judaicas. Essa fusão deu origem a uma cultura rica e variada que se refletiu em todos os aspectos da vida, incluindo a arquitetura, a ciência e a moda.

 

Mouros - Fonte: Wikimedia Commons
Mouros - Fonte: Wikimedia Commons
Vestido de rua das mulheres elegantes de Morisco em Granada - Plate 98v of Trachtenbuch (c. 1530–40). Hs 22474. Photograph by L. Streppelhoff.

Técnicas de Tecelagem

Os mouros introduziram métodos de tecelagem mais sofisticados que permitiram a criação desses tecidos complexos. Usando técnicas como o tear jacquard, eles eram capazes de tecer padrões intrincados diretamente no tecido, sem a necessidade de bordado posterior. Essa inovação possibilitou uma produção mais eficiente de tecidos finos e altamente detalhados.

As técnicas avançadas de tecelagem trazidas pelos mouros do Oriente Médio para a Península Ibérica transformaram radicalmente a produção têxtil da região. Eles introduziram técnicas complexas que permitiram a criação de tecidos luxuosos como brocados e damascos, altamente valorizados pelo seu brilho e complexidade.

Brocados e Damascos

Brocados

O brocado é um tecido ricamente decorado, muitas vezes com fios de ouro ou prata. Ele foi trazido para a Espanha pelos mouros e era muito popular entre a nobreza e a realeza por sua aparência luxuosa. Era frequentemente usado em roupas cerimoniais, vestimentas religiosas e até em decoração.

Damascos

O damasco é um tecido com padrões geométricos ou florais complexos, normalmente produzidos em seda ou algodão. O nome “damasco” vem da cidade de Damasco, que foi um centro de produção de têxteis finos. Esse tecido é caracterizado por um contraste entre o brilho do padrão e o fundo fosco, criado através de uma técnica especial de tecelagem. Na Península Ibérica, tornou-se muito popular em decoração e roupas.

Mulher representando a ocupação dos Mouros na peninsula ibérica na idade média
Representação de trajes Mouros na Península Ibérica na Idade Média

Amor cortês e os Cavaleiros Medievais

O “Amor Cortês” surgiu na literatura medieval na Europa, especialmente com os trovadores no sul da França no final do século XI. Essa ideia romântica descrevia um tipo de amor geralmente secreto e não correspondido, elevando a dor do amor e a devoção extrema a uma dama idealizada. Esse conceito não só mudou a cultura e as interações sociais da época, mas também teve um impacto marcante na moda.

Elegância Aumentada

Com o Amor Cortês em voga, a moda se tornou mais refinada. Os nobres passaram a vestir-se de forma mais elaborada, com homens e mulheres adotando trajes que refletiam suas virtudes e status. As roupas ficaram mais ornamentadas, refletindo o ideal de cavalheirismo e pureza.

Símbolos Românticos

As roupas começaram a incorporar elementos simbólicos de amor e lealdade, como corações e pombas, muitas vezes encontrados em broches e acessórios. Cores como vermelho e azul, representando paixão e fidelidade, também se tornaram populares.

Grande manuscrito de canção de Heidelberg (1340) – Domínio Público. https://digi.ub.uni-heidelberg.de/diglit/cpg848

Tecidos e Cores

Para impressionar uma dama da corte, os nobres usavam tecidos caros como seda e veludo e optavam por cores vivas. Essa tendência refletia a importância da aparência visual na corte e o desejo de ser notado.

Silhuetas Modificadas

As silhuetas das roupas foram ajustadas para exaltar formas idealizadas. As mulheres usavam vestidos com cinturas marcadas e saias amplas, enquanto os homens optavam por trajes mais ajustados que realçavam uma postura ereta e nobre, simbolizando prontidão para servir e proteger.

Pintura de Filippo Lippi sobre amor cortês
Amor cortês do feminino dentro da corte o masculino na parte externa - Fra Filippo Lippi (1449-1459) National Gallery, London - https://www.nationalgallery.org.uk/paintings/fra-filippo-lippi-the-annunciation

A Moda dos Cavaleiros

Armadura e Funcionalidade

No coração do vestuário de um cavaleiro estava sua armadura, projetada primordialmente para proteção em batalha. Inicialmente, as armaduras eram feitas de placas de metal ou malha de ferro, conhecida como cota de malha, que oferecia uma combinação eficaz de proteção e flexibilidade. Com o passar dos séculos, as armaduras tornaram-se mais sofisticadas e abrangentes, eventualmente evoluindo para as armaduras de placas completas que são frequentemente associadas aos cavaleiros medievais. Essas armaduras não apenas protegiam os cavaleiros, mas também eram um símbolo de status e riqueza, frequentemente adornadas com detalhes em relevo, gravuras e até mesmo ouro ou prata.

Vestimentas Sob a Armadura

Por baixo da armadura, os cavaleiros usavam roupas que maximizavam o conforto e minimizavam o atrito. Eles poderiam usar um “gambesão”, uma túnica acolchoada que oferecia proteção adicional. Além de suas funções práticas, essas peças também podiam ser decoradas com as cores e emblemas de seu senhor ou da própria família do cavaleiro, servindo como uma declaração de lealdade e honra.

Gambesão Medieval
Simbolismo e Cerimônia

As vestimentas de um cavaleiro também tinham um forte componente cerimonial e simbólico. Durante torneios, por exemplo, que eram tanto eventos sociais quanto competições, os cavaleiros usavam trajes ricamente decorados que exibiam seus brasões de família. Esses trajes não apenas os identificavam claramente à distância, mas também eram usados para impressionar a nobreza e potenciais patronos.

São Jorge e o Dragão (1434/35) por Bernat Martorell

Maria Antonieta

Maria Antonieta, nascida arquiduquesa da Áustria, tornou-se rainha da França ao casar-se com Luís XVI. Chegando à corte francesa em 1770, ela era uma jovem de apenas 14 anos, jogada em um mundo de intrigas e etiquetas rígidas que ditavam cada movimento da realeza. O ambiente opulento de Versalhes, com seus bailes e festas luxuosas, contrastava com a crescente tensão política e social que começava a borbulhar fora dos portões do palácio.

"Marie Antoinette in a Muslin Dress" - Élisabeth Vigée Le Brun, 1783
"Marie Antoinette in a Muslin Dress" - Élisabeth Vigée Le Brun, 1783

A rainha rapidamente se tornou conhecida por seu estilo extravagante e seu amor por moda. Ela era uma trendsetter, uma verdadeira influenciadora de sua época, que não tinha medo de exibir vestidos luxuosos e elaborados, muitos dos quais criados pelo famoso estilista Rose Bertin. Seus penteados, como o infame “pouf“, eram tão altos e ornamentados que frequentemente incluíam miniaturas de navios e cenas da vida cotidiana, capturando a imaginação da corte e solidificando seu status como ícone de moda.

Maria Antonieta em 1775

Capital da moda

As revistas de moda da época, nascidas durante a época de Maria Antonieta, desempenharam um papel crucial em moldar as tendências de moda e a percepção pública dos padrões de vestuário. Essas publicações não só disseminavam as últimas tendências da corte francesa para um público mais amplo na Europa, mas também destacavam a moda como um elemento essencial da vida aristocrática. Elas ajudavam a estabelecer Paris como a capital da moda, uma reputação que a cidade mantém até hoje.

Abaixo um texto da matéria Marie-Antoinette’s Style Revolution – da National Geographic

Notáveis ​​​​designers de moda franceses do século XVIII incluíam Marie-Jeanne Bertin, também conhecida como “Rose”, que foi pioneira na alta costura francesa no final do século XVIII. Ela abriu sua própria loja de moda em Paris em 1777 e rapidamente se tornou a costureira preferida. O reconhecimento de seus talentos foi ratificado pela Duquesa de Chartres, que a apresentou à própria Maria Antonieta. A rainha ficou tão impressionada com seus designs que construiu uma oficina para ela em Versalhes, onde Rose, sua “Ministra da Moda”, criou designs cada vez mais extravagantes para a rainha. As suas criações foram exportadas para cortes de Londres, Veneza, Viena, Lisboa e muitas outras capitais.
Portrait of Queen Marie Antoinette (1755 - 1793). Painting by Marie Elisabeth Louise Vigee Le brun
Portrait of Queen Marie Antoinette (1755 - 1793). Painting by Marie Elisabeth Louise Vigee Le brun

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