História da Moda: Egito Antigo

um faraó em trajes tradicionais, uma nobre com uma Kalasiris transparente, e um artesão exibindo joias e calçados intricados, tudo ambientado com um fundo estilizado do rio Nilo.

Embarque em uma jornada até o Egito Antigo, onde a moda transcende simples vestuário e se torna uma expressão vibrante de status, religião e política. Neste post, exploraremos como a indumentária distinguia faraós e plebeus, e revelava as hierarquias sociais dessa civilização fascinante. Desvendaremos os segredos das vestimentas de figuras icônicas como Tutancâmon e Nefertiti, mostrando como tecidos, joias e calçados eram carregados de significados de poder e divindade. Prepare-se para uma viagem pelo mundo da moda no Egito Antigo, onde cada elemento tinha um propósito e uma história.

Indumentária como Status Social

No Egito Antigo, a moda era muito mais do que simples vestimentas do dia a dia; ela era um marcador expressivo do status social e da posição hierárquica. Por exemplo, o jovem faraó Tutancâmon, cujo túmulo revelou tesouros de vestimentas reais e adornos, como sua máscara mortuária de ouro e um peitoral incrustado de pedras preciosas, destacava-se como símbolos de realeza e de status divino. Além disso, a rainha Nefertiti, conhecida por sua beleza e poder, usava vestimentas que comunicavam sua posição elevada, como túnicas de linho finamente tecidas, adornadas com joias coloridas e complexas, que demonstravam seu status elevado e influência.

 

Veja o busto real de Nefertiti em 3D

As diferenças entre as classes também eram marcadas pelas escolhas de tecidos e decorações. A elite egípcia optava por linhos extremamente finos, muitas vezes transparentes, e joias elaboradas, enquanto as classes trabalhadoras usavam roupas de materiais mais robustos e simples, desenhadas para a durabilidade e o conforto sob o calor do deserto. A funcionalidade era evidente nas vestimentas dos trabalhadores, em contraste com a opulência da nobreza.

Mascara Mortuária Tutancamon
Máscara Mortuária de ouro - Tutancamon
Rainha Nefertari e suas vestimentas transparentes
Rainha Nefertari e suas vestimentas transparentes

Assim, o vestuário no Egito Antigo ia muito além da funcionalidade básica; ele carregava significados sociais e espirituais profundos e atuava como uma forma poderosa de comunicação visual. Transmitia mensagens complexas sobre identidade, poder e posição dentro da estrutura social egípcia, usando cada peça de vestuário para reforçar as distinções entre as diferentes camadas da sociedade.

Simbolismo Religioso e Mágico

No Egito Antigo, a moda estava profundamente entrelaçada com o simbolismo religioso e mágico, refletindo as crenças e rituais dessa civilização milenar. As vestimentas e acessórios não eram apenas decorativos; eles serviam como talismãs de proteção e expressões de devoção aos deuses. Por exemplo, o uso de amuletos embutidos em joias ou costurados nas bainhas das roupas era comum, pois acreditava-se que esses objetos possuíam poderes para afastar o mal e atrair bênçãos divinas. Cores específicas também desempenhavam papéis simbólicos significativos; o azul, por exemplo, estava associado ao Nilo e ao céu, simbolizando renascimento e criação, enquanto o verde representava a fertilidade e a regeneração. Esses elementos eram cuidadosamente escolhidos para incorporar os valores e esperanças dos indivíduos e suas famílias, demonstrando que cada peça de vestuário no Egito Antigo era uma mescla de arte. 

Um exemplo desse simbolismo pode ser visto no peitoral da princesa Sithathoriunet, composta por 372 pedaços de pedras semipreciosas: “Sinais hieroglíficos compõem o desenho, e o todo pode ser lido: “O deus do sol nascente concede vida e domínio sobre tudo o que o sol circunda por um milhão e cem mil anos [ou seja, a eternidade] ao rei Khakheperre [Senusret II]. – https://egypt-museum.com/pectoral-and-necklace-of-sithathoriunet/.

Peitoral de Sithathoriunet
Peitoral de Sithathoriunet

O linho era o tecido predominante, valorizado por sua capacidade de manter o corpo fresco e sua textura leve, ideal para o clima do deserto. Produzido a partir da planta do linho, que crescia abundantemente ao longo do rio Nilo, o linho era tecido em várias gramaturas, permitindo tanto peças mais finas e transparentes para a nobreza quanto tecidos mais grossos e duráveis para a classe trabalhadora.

Além do linho, a lã era outro material utilizado, embora em menor escala devido ao calor. A lã era geralmente reservada para as camadas mais elevadas da sociedade e usada em ocasiões especiais ou em cerimônias religiosas, refletindo seu status mais luxuoso comparado ao linho. Roupas de lã eram frequentemente tingidas, ao contrário das de linho, que geralmente eram mantidas na sua cor natural ou branqueadas.

Os egípcios também eram mestres na arte do tingimento e da decoração de tecidos. Usavam uma vasta paleta de cores derivadas de minerais, plantas e conchas. O azul e o verde, por exemplo, eram obtidos a partir de compostos de cobre, enquanto o vermelho vinha do ocre. Essas cores não eram apenas escolhidas por sua estética, mas também por seus significados simbólicos e mágicos, como o azul que representava o rio Nilo e o céu, simbolizando renovação e proteção.

Estilos de Vestimenta

No Egito Antigo, os estilos de vestimenta variavam significativamente entre homens, mulheres e diferentes classes sociais, refletindo tanto o clima quanto os valores culturais da época. Cada peça de vestuário tinha seu propósito específico, fosse ele prático, simbólico ou estético.

Para homens

A peça mais comum no vestuário masculino era o “shendyt“, um tipo de kilt que evoluiu ao longo dos séculos em diversos estilos e comprimentos. Inicialmente simples e prático, destinado a suportar o calor intenso, o shendyt tornou-se mais elaborado com o passar do tempo, especialmente para os membros da nobreza, que passaram a adorná-lo com bordados e joias finas para demonstrar seu status elevado. Homens de todas as classes também usavam túnicas simples, que podiam ser ajustadas com cintos para eventos ou funções específicas. Também eram usados por mulheres.

Schenti Egipcio - Vestimenta
Shendyt Egípcio - https://www.britannica.com/topic/schenti

Para mulheres

Kalisiris - Vestimenta feminina Egipcia
Kalisiris

As mulheres egípcias geralmente vestiam a “kalasiris“, uma túnica longa que podia ser feita de linho fino e podia variar em comprimento. Para as mulheres da elite, essas túnicas eram muitas vezes transparentes, decoradas com contas ou ouro, e usadas com cintos elaborados para acentuar a cintura. Em ocasiões especiais, podiam ser complementadas com capas ou mantos igualmente decorados. As mulheres também tinham uma variedade maior de acessórios, como braceletes, colares e pulseiras, cada um escolhido para complementar suas vestes e mostrar sua posição social. Também podia ser usada por homens de alta classe.

Joias e Acessórios

A utilização de joias no Egito Antigo começava desde cedo, com crianças de famílias nobres que recebiam amuletos como símbolos de proteção contra espíritos malignos e doenças. Para os adultos, as joias podiam indicar status social ou funções específicas dentro da sociedade. Faraós e membros da realeza, por exemplo, exibiam colares, braceletes e coroas intricados que eram feitos de ouro e incrustados com pedras preciosas como lápis-lazúli, turquesa e âmbar. Esses materiais não eram apenas escolhidos por sua beleza, mas também por suas supostas propriedades mágicas e conexões com os deuses.

Além dos materiais preciosos, as joias no Egito Antigo frequentemente apresentavam simbolismo religioso e mágico. Amuletos em formas de escaravelhos, por exemplo, eram comuns e considerados como poderosos símbolos de renovação e proteção. Outros amuletos populares incluíam figuras de deuses e deusas, símbolos de vida (ankh) e símbolos de estabilidade (djed), cada um oferecendo diferentes formas de proteção espiritual e bênçãos.

As joias também eram usadas em cerimônias importantes, como casamentos e rituais funerários. No contexto funerário, eram peças essenciais nos preparativos para a vida após a morte, acreditando-se que proporcionavam ao defunto proteção contínua e status no além.

Djed Egípcio

Djed Egipcio
https://museum.wa.gov.au/research/collections/ancient-egypt/ancient-egyptian-collection/amulet-djed-pillar

Calçados

No Egito Antigo, os calçados não eram apenas itens práticos para proteger os pés; eles também desempenhavam um papel significativo em termos sociais e simbólicos. As sandálias, principal tipo de calçado dessa época, variavam grandemente em estilo e material, refletindo o status e a classe social do usuário. Significavam também um símbolo de proteção.

Fabricadas principalmente de papiro, palmeira e couro, as sandálias eram projetadas para suportar o calor do deserto e o terreno árido. Para a maioria da população, as sandálias eram simples e funcionais, mas para a elite, como faraós e nobres, elas eram luxuosamente decoradas. Sandálias reais, por exemplo, podiam ser feitas de ouro ou decoradas com pedras preciosas, destacando o status exaltado de seus portadores. Além disso, algumas sandálias eram projetadas com imagens de inimigos esculpidas nas solas, permitindo que o usuário literalmente “pisasse” em seus adversários a cada passo, uma prática que ilustrava o poder e a supremacia do faraó.

Sandalia Tutankamon Guerreiros
Inimigos desenhados na sandália egípcia
Sandálias de Ouro de Tutancâmon
Sandálias de Ouro de Tutancâmon

Os calçados no Egito Antigo também tinham uma importância religiosa e ritualística. Durante os rituais e cerimônias importantes, era comum que os sacerdotes e o faraó usassem sandálias especiais que os distinguiam dos demais participantes. Em contextos funerários, sandálias eram frequentemente incluídas nos túmulos como parte dos bens essenciais que os mortos poderiam precisar na vida após a morte. No túmulo do faraó Tutancâmon, por exemplo, foram encontradas 80 pares de sandálias. Algumas de couro, outras de ouro e também com jóias.

Perfumes e Cosméticos

No Egito Antigo, perfumes e cosméticos eram essenciais não só para embelezamento pessoal, mas também desempenhavam papéis significativos em rituais religiosos e como indicadores de status social. Eles eram meticulosamente fabricados a partir de ingredientes naturais como plantas, flores e resinas. Os perfumes, particularmente, eram usados para purificar ambientes em cerimônias e como oferendas aos deuses, sendo o Kyphi um dos perfumes mais famosos. Este incenso complexo, composto por uma mistura de 16 ingredientes, era queimado ao entardecer para acalmar os deuses e como remédio para várias doenças.

O kohl, um cosmético amplamente usado por homens e mulheres, não apenas realçava a expressão dos olhos, mas também oferecia proteção contra o sol do deserto e acreditava-se que tinha propriedades contra infecções oculares. Os recipientes para cosméticos e perfumes eram obras de arte, frequentemente encontrados em túmulos, simbolizando a importância destes itens na vida após a morte.

kohl egipcio
Kohl realçando os olhos

Penteados e Perucas

A prática de usar perucas, especialmente entre a elite, estava enraizada em questões tanto de higiene quanto de status. Com o clima quente e seco do deserto, manter cabelos longos era muitas vezes desconfortável e impraticável, além de atrair piolhos. Por isso, era comum tanto homens quanto mulheres rasparem seus cabelos e usarem perucas elaboradas para proteção e para manter a aparência de opulência.

As perucas eram feitas de cabelo humano, lã de ovelha ou fibras vegetais e meticulosamente estilizadas para imitar penteados populares da época. Elas podiam ser adornadas com tranças, contas douradas e fitas coloridas, e eram frequentemente usadas em camadas para criar um visual volumoso e complexo. O uso de perucas também permitia a expressão de personalidade e mudanças de estilo sem danificar o cabelo natural, o que era particularmente valorizado em uma sociedade que via o cabelo como um símbolo de juventude e vitalidade.

 

Liz Taylo como Cleopatra
A Peruca fez parte do figurino de Liz Taylor em Cleopatra (1963)

Além das perucas, os egípcios antigos também utilizavam uma variedade de acessórios de cabelo, como diademas, tiaras e coroas, que eram reservados para ocasiões especiais e rituais religiosos. Esses acessórios muitas vezes indicavam o status social ou a associação a determinados deuses, reforçando a importância do indivíduo dentro da hierarquia social e religiosa.

Os cuidados com o cabelo e o uso de perucas também tinham uma dimensão espiritual. Acreditava-se que a cabeça era o lar da alma, tornando o cabelo e qualquer cobertura sobre ele de grande significância espiritual. As perucas não só protegiam o portador de forças externas, mas também eram consideradas uma extensão de sua identidade espiritual, sendo muitas vezes incluídas nos equipamentos funerários para uso na vida após a morte.

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