História da Moda: Anos 1920

A década de 1920 é muitas vezes lembrada como a era da revolução cultural, dos excessos do pós-guerra, e do nascimento de novos ideais de liberdade e modernidade. A moda desse período reflete perfeitamente o espírito dessa época, sendo profundamente marcada por transformações sociais, artísticas e políticas. Este artigo explora os principais movimentos que moldaram a moda dos anos 1920 e as personalidades que deixaram suas marcas indeléveis, oferecendo uma visão aprofundada das dinâmicas estilísticas que não se limitam apenas ao glamour do período. Década imprescindível para quem estuda ou trabalha com moda!

Boa leitura! 🙂

Principais Movimentos da Moda dos Anos 1920

Movimento Flapper

As flappers tornaram-se o símbolo mais icônico dos anos 1920. Essas jovens desafiaram as normas estabelecidas, tanto comportamentais quanto estéticas, adotando um estilo de vida que representava independência e liberdade. Os vestidos eram curtos (para os padrões da época), frequentemente até os joelhos, e favoreciam uma silhueta reta, que eliminava a necessidade do espartilho tradicional. As franjas, os tecidos leves e a cintura baixa eram as marcas registradas dessas mulheres que dançavam jazz e faziam questão de desafiar as regras. O movimento flapper também estava associado a um estilo de vida boêmio: mulheres fumando em público, cortando os cabelos em estilos curtos (como o bob) e frequentando bares, o que era considerado subversivo. As flappers eram, acima de tudo, um reflexo da emancipação feminina, buscando igualdade e liberdade.

Art Déco e a Influência na Moda

O movimento Art Déco teve um papel fundamental na estética da moda dos anos 1920. Caracterizado por formas geométricas, linhas limpas e a busca por modernidade, o Art Déco influenciou tanto o design dos tecidos quanto os acessórios e joias. Os vestidos eram adornados com bordados detalhados e motivos geométricos, muitas vezes utilizando miçangas, lantejoulas e elementos metálicos para dar um toque luxuoso, refletindo a estética do período. Elsa Schiaparelli, uma das principais designers da época, incorporava elementos surreais e geométricos em suas criações, que eram verdadeiras peças de arte. O Art Déco também influenciou o design de acessórios, como joias e bolsas, que eram caracterizados por um visual luxuoso e inovador.

Schiaparelli by Douglas Pollard, Vogue, December 15, 1927 - vogue.com

Minimalismo na Alta-Costura

Designers como Coco Chanel e Jean Patou incorporaram elementos de funcionalidade e simplicidade, um contraste ao excesso decorativo do período eduardiano. Chanel, em particular, popularizou o uso do little black dress, uma peça que se tornaria sinônimo de elegância atemporal. A ideia era simples: criar uma peça versátil, que pudesse ser usada em diferentes ocasiões e que transmitisse sofisticação sem exageros. Chanel também se destacou pelo uso de tecidos anteriormente considerados simples, como o jersey, que proporcionavam conforto sem perder a sofisticação. Jean Patou, por sua vez, foi um dos responsáveis pela criação do “esporte chique”, trazendo roupas inspiradas em trajes esportivos para o cotidiano, ajudando a popularizar o uso de suéteres e saias plissadas. Esse movimento foi fundamental para a libertação das mulheres de trajes pesados e desconfortáveis.

O estilista Jean Patou escolhendo suas modelos
Jean Patou - Fonte: Getty Images

Dança e Moda: O Jazz e o Charleston

Josephine Baker - Museu de Cera - Madame Tussauds Berlim

A música teve uma grande influência sobre a moda dos anos 1920. O ritmo acelerado do jazz e a popularidade do Charleston impulsionaram uma necessidade por roupas que oferecessem liberdade de movimento. Isso levou à proliferação dos vestidos com franjas, que acentuavam os movimentos das dançarinas. Josephine Baker, uma figura de destaque, ajudou a popularizar o estilo de dança e os trajes exuberantes associados ao jazz. Baker, muitas vezes, se apresentava com trajes feitos de materiais exóticos, como sua famosa saia de bananas, que refletia não só a energia da época, mas também um desejo de transcender fronteiras culturais. A dança e a moda estavam interligadas, promovendo uma nova liberdade de expressão corporal e estendendo o entusiasmo pelo jazz para o vestuário.

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Personalidades que Definiram a Moda dos Anos 1920

Clara Bow

Conhecida como a “It Girl”  da moda dos anos 1920, Clara Bow foi uma das atrizes mais famosas do cinema mudo e símbolo do estilo flapper. Sua aparência — cabelo bob, maquiagem ousada e roupas modernas — tornou-se icônica para as mulheres da época. Bow representava o espírito rebelde e livre da década, e sua influência na moda foi enorme, pois milhões de fãs procuravam imitar seu estilo, desde os vestidos curtos até o comportamento destemido.

Jean Patou

Jean Patou foi um dos principais estilistas da década de 1920 e é conhecido por ter criado o conceito de moda esportiva de luxo. Ele reconheceu a necessidade de um vestuário mais confortável e adequado ao novo estilo de vida ativo das mulheres da época. Patou introduziu roupas que eram elegantes, mas funcionais, projetadas especificamente para atividades ao ar livre e esportivas, como tênis e golfe. Sua moda esportiva não apenas representava um avanço na liberdade de movimento para as mulheres, mas também a democratização do luxo, já que as roupas de esporte não eram apenas práticas, mas também sofisticadas e modernas. Jean Patou também é lembrado pelo lançamento do perfume Joy em 1929, que se tornou um dos perfumes mais caros do mundo, simbolizando o requinte e a exclusividade de sua marca. Ele ajudou a redefinir o guarda-roupa feminino, combinando simplicidade com glamour, e foi um dos primeiros a patrocinar esportistas, como a famosa tenista Suzanne Lenglen, que se tornou um ícone de estilo com suas roupas assinadas por Patou.

Jean Patou - Fonte: Getty Images

Jeanne Lanvin

Modèle Sport, Hiver 1928 - https://us.lanvin.com/pages/jeanne-lanvin

Fundadora de uma das casas de moda mais antigas em operação contínua, Lanvin teve um papel fundamental na definição do glamour da moda dos anos 1920. Seus vestidos conhecidos como “robes de style” contrastavam com a silhueta reta das flappers, mantendo uma cintura levemente definida e saias volumosas. A estética de Lanvin refletia um desejo de elegância e romantismo, incorporando detalhes complexos como bordados, pérolas e tecidos luxuosos, frequentemente inspirados em padrões florais e tons pastel. Lanvin também foi uma das primeiras designers a lançar uma linha de moda infantil, trazendo sua estética delicada para diferentes faixas etárias.

Louise Brooks

A atriz de cinema mudo, conhecida por seu corte de cabelo bob, tornou-se uma referência visual que encapsulava a modernidade dos anos 1920. Seu estilo de cabelo curto e suas roupas sofisticadas ajudaram a popularizar o visual flapper e influenciaram as jovens da época a adotarem um estilo mais ousado e urbano. Brooks também era famosa por seu comportamento irreverente, que simbolizava o espírito de liberdade da década. Ela não apenas representava a moda em termos visuais, mas também o comportamento desafiador e a nova atitude das mulheres em relação à independência.

Coco Chanel

Uma das figuras mais importantes da moda no século XX, Coco Chanel não apenas revolucionou a moda dos anos 1920, mas também redefiniu a maneira como as mulheres se viam e se comportavam. Ela introduziu um estilo que valorizava a praticidade e o conforto, rompendo com os vestidos volumosos e complexos do século anterior e estabelecendo uma nova estética minimalista e funcional. Chanel rejeitou a opressão do espartilho, optando por cortes mais soltos que permitiam liberdade de movimento e trouxeram uma sensação de empoderamento às mulheres. Uma de suas inovações mais marcantes foi o uso do tecido jersey, até então utilizado apenas para roupas íntimas masculinas, que ela adaptou para vestidos e conjuntos casuais, proporcionando uma mistura de conforto e sofisticação que encantou a clientela. Chanel também lançou o icônico little black dress em 1926, que se tornou um símbolo de elegância atemporal e versatilidade. Sua filosofia de moda era que uma mulher poderia ser sofisticada e confortável ao mesmo tempo, sem precisar de extravagâncias. Além disso, Chanel popularizou o uso de pérolas falsas, tornando o luxo mais acessível e permitindo que mulheres de diferentes classes sociais pudessem aderir a um visual elegante. 

Seu perfume Chanel Nº5, lançado em 1921, também desempenhou um papel crucial na consolidação de sua marca, combinando o conceito de fragrância sofisticada com o universo da moda, o que ajudou a estabelecer um novo padrão de estilo e feminilidade. Chanel não apenas criou roupas; ela promoveu uma visão nova de liberdade, elegância e força para as mulheres do século XX.

Vogue 1926 Little Black Dress Fonte: Vogue US

Características de Moda dos Anos 1920

Transformação dos Materiais e Experimentação

Na moda dos anos 1920, houve uma verdadeira revolução nos materiais utilizados na confecção de roupas. Tecidos como o cetim, o veludo e o chiffon ganharam espaço, muitas vezes em combinações inusitadas. Além disso, a popularização de miçangas e lantejoulas nos vestidos noturnos trouxe um glamour visual associado às festas e à cultura do cabaré. A moda dos anos 1920 também testemunhou a incorporação de elementos metálicos, como fios de prata e ouro, em vestidos e acessórios, o que ajudava a criar um brilho cintilante, especialmente em ambientes noturnos, como os clubes de jazz.

A Ascensão da Indústria de Cosméticos e Perfumes

A moda dos anos 1920 estava intimamente ligada à crescente popularidade de cosméticos e perfumes. Coco Chanel lançou o famoso Chanel Nº5 em 1921, que se tornou um ícone cultural e ajudou a estabelecer a conexão entre moda e fragrância. Marcas como Max Factor e Elizabeth Arden também emergiram como pioneiras na indústria de cosméticos, oferecendo uma variedade de produtos para mulheres que desejavam adotar a aparência de estrelas de cinema. Pela primeira vez, usar maquiagem tornou-se socialmente aceitável para todas as mulheres, não apenas para artistas, mudando profundamente os comportamentos em relação à beleza e à moda.

Campanha do perfume Chanel nº5 com a atriz Marion Cotillard (2020)

A Transformação do Guarda-Roupa Masculino

Embora a década de 1920 seja frequentemente lembrada pela revolução feminina, a moda masculina também passou por mudanças significativas. O uso de ternos mais ajustados, a popularidade dos chapéus Fedora e o abandono gradual do fraque em favor do smoking mais moderno marcaram a época. Homens como Rudolph Valentino, uma estrela de cinema da época, influenciaram o estilo masculino com sua abordagem elegante e despojada. O uso de tecidos mais leves e a preferência por cores mais claras durante o verão refletiam um desejo por mais conforto e um afastamento da rigidez do período anterior.

Rudolph Valentino em Sangue e Areia (Blood and Sand) - 1922

Moda e Cinema: A Influência das Estrelas de Hollywood

Gloria Swanson nos anos 1920

O cinema, que crescia como meio de entretenimento de massa, teve um impacto imenso na popularização das tendências de moda. Atrizes como Gloria Swanson, Clara Bow e Greta Garbo ditavam tendências que eram rapidamente adotadas pelas mulheres. Swanson, por exemplo, era conhecida por seus vestidos glamorosos, muitas vezes adornados com penas e bordados. O cinema funcionava como uma vitrine de luxo e estilo, promovendo não apenas as roupas, mas também um estilo de vida sofisticado e aspiracional. Os trajes usados pelas estrelas eram amplamente copiados por mulheres em busca de um toque de glamour em suas próprias vidas.

A Influência da Semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil

Integrantes da Semana de Arte Moderna de 1922
Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, esta usando Paul Poiret

Em fevereiro de 1922, ocorreu a Semana de Arte Moderna em São Paulo, Brasil, um evento que marcou uma ruptura definitiva com o conservadorismo cultural e artístico do país. Embora o foco principal tenha sido a literatura, música e artes plásticas, a Semana de 1922 também influenciou a moda e o comportamento da sociedade brasileira. Artistas como Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Tarsila do Amaral foram figuras centrais nesse movimento, que buscava redefinir a identidade cultural brasileira. O modernismo brasileiro promoveu a simplificação e a liberdade estética, inspirando um visual mais descontraído e alinhado com a ideia de renovação cultural e identidade nacional. As mulheres começaram a adotar vestidos mais curtos e simples, afastando-se da formalidade que predominava anteriormente, enquanto os homens passaram a optar por um estilo mais leve e casual, refletindo a busca por uma expressão autenticamente brasileira.

Os Loucos Anos 20 nos EUA e o Movimento dos "Speakeasy"

Os “Loucos Anos 20”, ou “Roaring 20’s“, foram marcados por um clima de efervescência social e cultural nos Estados Unidos, impulsionado por um crescimento econômico sem precedentes após a Primeira Guerra Mundial. Uma característica marcante desse período foi a Lei Seca (Prohibition), que proibiu a fabricação e venda de bebidas alcoólicas de 1920 a 1933. Essa proibição deu origem aos speakeasies, bares clandestinos onde a sociedade se reunia para beber, dançar e celebrar em segredo. Esses locais se tornaram verdadeiros centros de moda e expressão cultural. As mulheres que frequentavam os speakeasies geralmente vestiam roupas da moda flapper: vestidos curtos com franjas, boás de penas, sapatos de salto baixo e tiaras adornadas. A atmosfera de rebeldia e a clandestinidade desses ambientes incentivavam uma moda provocante e ousada, simbolizando a quebra das regras e a busca pela liberdade. Além disso, os homens adotavam ternos elegantes e chapéus inspirados pelos gangsters e personagens influentes da época. Assim, a moda dos anos 1920 nos EUA foi indissociável desse clima de transgressão e celebração, com os speakeasies funcionando como pontos focais da disseminação de tendências culturais e estilísticas.

A década de 1920 foi um dos períodos mais transformadores da história da moda. Com uma combinação de inovação, quebra de tabus e uma busca incansável por modernidade, a moda dos anos 1920 redefiniram o que significava ser elegante e estar na moda. Foi uma época em que a moda não era apenas sobre roupas, mas sobre atitude, liberdade e expressão de identidade. Os ecos desse período ainda podem ser vistos hoje, em estilos que continuam a revisitar o espírito audacioso e revolucionário das flappers e das figuras icônicas que moldaram aquela era.

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