História da Moda: Moda Renascentista

O Renascimento, um período de renovação cultural e intelectual que se estendeu aproximadamente do século XIV ao XVII na Europa, teve um impacto significativo em muitos aspectos da vida cotidiana, incluindo a moda. A “moda no Renascimento” refletia um novo interesse pelo humanismo, pela arte e pela ciência, influências que moldaram não apenas o pensamento, mas também o vestuário da época. Este período marcou uma evolução distinta em relação às vestimentas mais utilitárias da Idade Média, introduzindo uma era de roupas que enfatizavam a forma, a beleza e o detalhe.

reprodução da Criação de adão, na Capela Sistina
Criação de Adão (1508-1512), obra de Michelangelo no teto Capela Sistina
Portrait of a Young Man Bronzino (Agnolo di Cosimo di Mariano - 1530s). https://www.metmuseum.org/art/collection/search/435802

Importância da Moda no Renascimento

Durante o Renascimento, a moda tornou-se uma forma de expressão pessoal e um indicativo do status social de uma pessoa. As roupas começaram a ser feitas com tecidos mais ricos e coloridos, muitas vezes importados de terras distantes, refletindo o crescimento do comércio global e o interesse renovado em design e estética. Isso foi evidenciado pelas silhuetas que mudavam rapidamente e pela complexidade dos trajes, que agora incluíam várias camadas e adornos elaborados.

Personalidades da Época Renascentista

A Família Medici

Os Médici, uma poderosa família italiana, foram grandes patronos das artes e da moda. Eles investiram em tecidos luxuosos, como veludo e seda, e ajudaram a popularizar acessórios adornados como joias e bordados intricados. Caterina de Médici, por exemplo, é creditada com a introdução do salto alto na França quando se casou com o rei Henrique II.

Nas artes e arquitetura, a família patrocinou artistas renomados e construções de importantes obras da época, como a Basílica de São Pedro, no Vaticano e o “Duomo di Firenze“, além de esculturas dos próprios integrantes da família.

Papa Leão X (de 1513 a 1521), ou Giovanni di Lorenzo de Medici, com dois de seus principais cardeais, Giulio de Medici e Luigi de Rossi, ambos pertencentes da família Medici.

Caterina de Medici

Caterina de Medici
Caterina de Medici

Caterina de Medici, uma das figuras mais influentes do Renascimento, nasceu em 1519 em Florença, Itália, e foi uma nobre italiana que se tornou rainha consorte da França através de seu casamento com o rei Henrique II. Ela é frequentemente lembrada como uma líder política astuta e uma patrona das artes, mas também teve um impacto duradouro na moda e na cultura francesa.

Caterina chegou ao poder em uma época tumultuada na França, marcada por guerras religiosas e conflitos internos. Após a morte prematura de seu marido em 1559, Caterina se tornou regente para seus filhos menores, os futuros reis Francisco II, Carlos IX e Henrique III. Durante seu governo, ela tentou manter o equilíbrio entre os católicos e os huguenotes (protestantes franceses) na França, uma tarefa difícil que moldou seu reinado.

Catherine de Medici inspirou o desfile da Dior Primavera-Verão 2023

Influência na Moda e nas Artes

Como uma verdadeira Medici, Caterina era uma grande defensora das artes e desempenhou um papel crucial na introdução do Renascimento italiano na França. Seu apreço pela moda também foi notável. Ela é creditada com a introdução de várias tendências na corte francesa, incluindo:

  1. Saltos Altos: Caterina popularizou o uso de saltos altos. Ela supostamente trouxe essa moda da Itália para aumentar sua estatura e presença na corte francesa.

  2. Corsets: Ela também promoveu o uso de espartilhos na França, uma tendência que moldou a silhueta feminina por séculos. Os espartilhos ajudavam a definir a cintura e acentuar as formas do corpo, estabelecendo um padrão de beleza que persistiu durante a era vitoriana e além.

  3. Perfumes e Cosméticos: Além de suas contribuições à moda, Caterina de Médici foi uma pioneira na popularização do uso de perfumes e cosméticos na corte francesa, levando ao desenvolvimento de uma indústria de fragrâncias que ainda hoje é uma marca registrada da França.

Leonor (ou Eleonora) de Toledo

Leonor de Toledo nasceu em uma família aristocrática espanhola e chegou a Florença em 1539. Como membro da família Medici, Leonor rapidamente se tornou uma figura central na vida cultural e política da cidade. Ela era conhecida por seu refinado senso estético e por sua habilidade em usar a moda como uma ferramenta de poder e expressão pessoal.

quadro da Eleonora di Medici com o filho por Agnolo Bronzino
Eleonora di Medici com o filho Giovanni - Quadro de Agnolo Bronzino (1545) na Galleria degli Uffizi, Florença. https://www.uffizi.it/en/artworks/eleonora-di-toledo
Contribuições para a Moda
  1. Vestimentas de Luxo: Leonor é frequentemente lembrada por seus vestidos ricamente decorados, que frequentemente incluíam tecidos caros como veludo e seda, ornados com jóias e bordados detalhados. Seu guarda-roupa era um reflexo de seu status e influência, e ela usava a moda para comunicar sua autoridade e sofisticação.

  2. Retratos Icônicos: Loenor também é famosa por seus retratos, muitos dos quais foram pintados por Agnolo Bronzino. Estes retratos não apenas destacam sua beleza e elegância, mas também são considerados documentos importantes da moda renascentista, detalhando as roupas, jóias e acessórios da época.

  3. Patrocínio às Artes e Artesanato: Além de ser uma consumidora de moda, Leonor apoiava ativamente os artesãos e artistas locais. Ela contribuiu para o florescimento das artes têxteis em Florença, incentivando a produção de tecidos de luxo e o desenvolvimento de novas técnicas de fabricação.

Reconstrução do vestido funerário de Eleonora di Toledo - http://www.museumsinflorence.com/musei/costume_gallery.html

Assim como Catherine de Medici e Elizabeth I, Eleonora di Toledo utilizou a moda não apenas como uma forma de adornar-se, mas como uma estratégia de afirmação de poder e influência, demonstrando o papel vital que as mulheres desempenharam na cultura e na sociedade durante o Renascimento.

Elizabeth I

Durante o reinado de Elizabeth I, a moda na Inglaterra era tudo sobre esplendor e exibição de poder, tanto que a própria rainha poderia ser chamada de “vítima da moda“. Suas escolhas de estilo, além de expressarem sua personalidade, eram uma jogada de mestre para manter sua imagem de autoridade absoluta.

Vestimentas Clássicas

Os vestidos de Elizabeth I eram verdadeiras obras de arte. Ela adorava tecidos luxuosos como veludo e seda, bordados com ouro e prata e cheios de pérolas e gemas. Os vestidos tinham decotes quadrados que mostravam bem o pescoço e ombros, enquanto os corpetes eram bem justos e as saias, super volumosas. As mangas? Um show à parte, sempre cheias de detalhes, como babados e camadas.

Um dos seus looks mais icônicos é o “vestido do arco-íris”, que tem um arco-íris todo trabalhado em pedras preciosas. Esse vestido não era só uma escolha de moda, mas um símbolo poderoso de sua política e visão de mundo.

Maquiagem

A maquiagem de Elizabeth I era parte essencial de sua imagem. Com o tempo e algumas cicatrizes de varíola, ela começou a usar uma base pesada de ceruse, que era uma mistura de chumbo e vinagre, para deixar a pele super branca e sem imperfeições. Isso era complementado por bochechas bem rosadas e lábios vermelhos, marcando um contraste dramático com suas perucas ruivas ou cabelos super arrumados e cheios de joias.

Essa make, por mais que fosse icônica, não era nada saudável devido aos componentes tóxicos, o que só reforça como Elizabeth realmente sacrificava sua saúde pela imagem perfeita.

Elizabeth I mostrou que moda é poder, e usou cada peça de roupa e cada toque de maquiagem para fortalecer sua posição e mandar uma mensagem clara sobre quem mandava. Sua influência na moda não é só lembrada, mas continua sendo estudada como um exemplo de como a estética e a estratégia política podem andar de mãos dadas.

Margot Robbie como Elizabeth I em "Duas Rainhas" (2018)

Rufo

O rufo, ou gola rufada, foi um acessório icônico de moda que emergiu na Europa no final do século XVI e se tornou extremamente popular durante a era elisabetana. Caracterizado por sua estrutura expansiva e elaboradamente plissada ao redor do pescoço, o rufo era mais do que um mero adorno; era um símbolo de status e distinção social. Feitos geralmente de linho fino e às vezes enriquecidos com renda ou bordados, os rufos exigiam uma manutenção cuidadosa, incluindo o uso de amidos caros para manter sua forma e alvura. Devido ao seu custo e complexidade, os rufos eram predominantemente usados por nobres e membros da corte real, servindo como um sinal visível de riqueza e posição elevada. Para as classes mais baixas, cujos meios eram limitados, usar um rufo era uma aspiração distante, destacando ainda mais a divisão de classes da época. Portanto, esse acessório não apenas elevava a estética do traje da moda, mas também reforçava as barreiras sociais, delineando claramente quem estava no poder e quem não estava.

Elizabeth I com rufo - Retrato da Armada
Rufo em destaque no Retrato da Armada (1588) - Elizabeth I

Henrique VIII

Henrique VIII da Inglaterra, pai de Elizabeth I, uma das figuras mais carismáticas e controversas da história europeia, reinou de 1509 a 1547. Conhecido não apenas por suas seis esposas e pelo cisma que provocou com a Igreja Católica, mas também por seu impacto indelével na moda masculina do século XVI.

Moda Masculina sob Henrique VIII

Henrique VIII era conhecido por seu porte imponente e por trajes que espelhavam sua personalidade dominante e seu status real. Ele popularizou o uso do gibão, uma peça de vestuário ajustada ao corpo que se expandia abruptamente abaixo da cintura, criando uma silhueta em forma de “V” que era muito admirada e imitada na época. Essa peça era frequentemente confeccionada em tecidos luxuosos e decorada com bordados em ouro, refletindo a riqueza e o poder do monarca.

Além do gibão, Henrique VIII também era conhecido por seus chapéus extravagantes, adornados com penas e joias, e por suas meias coloridas, que eram feitas de tecidos finos e muitas vezes exibiam cores vibrantes. Essas escolhas de moda não apenas estabeleciam tendências na corte inglesa, mas também influenciavam a moda em toda a Europa, destacando a influência cultural da Inglaterra durante seu reinado.

Retrato de Henrique VIII, por Hans Holbein (1537) - Royal Collection Trust

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